«I try to be as progressive as I can possibly be, as long as I don't have to try too hard.» (Lou Reed)
domingo, fevereiro 26, 2006
Leitura de fim-de-semana
É giro o texto do Buruma no Guardian sobre frustração sexual e extremismo político.
Achei a Austrália muito desagradável
[A crónica de Ana Sá Lopes no dn de ontem, intitulada «Em trânsito»]
(...) Por estes dias ando em "trânsito", um modo de vida suficientemente esquisito para, sincopadamente, irromper alguma sensação de "irrealidade". Comecei, por exemplo, a escrever esta crónica há uma semana num aeroporto das Maldivas, em trânsito, e estou a acabá-la numa quarto de hotel das Maldivas (que abandono esta noite). Não faço a mínima ideia do que são as Maldivas, embora o jantar do hotel tenha sido óptimo, com sushi e sashimi para quem gosta. O estar em trânsito é uma estranha forma de vida porque a rápida sucessão de cenários provoca uma esquisita suspensão do tempo, agravada pelo fusos horários. Por exemplo, eu efectivamente estive em Omã, embora não saiba ao certo o que é Omã, mesmo que tenha visto a cara do sultão espetada na parede da recepção do hotel e três ou quatro mulheres de cara tapada no aeroporto. Singapura, por exemplo: há alguns anos passei 18 horas em trânsito em Singapura e conheci todos os cantos do aeroporto, que é um daqueles que têm hotel, spa e piscinas incorporados. Ontem, uma seca de cinco horas no aeroporto de Singapura pareceu-me excessivamente familiar. E a Austrália, por exemplo? Já estive lá. Duas horas em Darwin. Sabem como são os australianos? Não deixam entrar estrangeiros com comida, telemóveis ligados e são uns paranóicos das revistas de alfândega. Achei a Austrália muito desagradável. Nas Maldivas, pelo contrário, não maçam e o café expresso é do melhor que se pode tomar no exterior. Acho que estou a gostar das Maldivas.
O marxista abraça o «pessimismo antropológico».
sexta-feira, fevereiro 24, 2006
A ler
Indispensáveis, três notas de Pedro Magalhães: sondagem na Palestina, choque de civilizações e a defesa da "tolerância" e da "liberdade" tem dias. Sintético, o texto de Vasco Pulido Valente no Público de hoje sobre o Iraque.
Desculpe?

«Como foi possível?», pergunta-se o Público hoje na capa, a propósito do assassinato perpetrado por miúdos no Porto. A surpresa indignada do Público faz-me lembrar Max von Sydow em Ana e as Suas Irmãs (1986), um dos melhores Woody Allen: «Passei a noite a ver mais um debate de intelectuais na televisão sobre o Holocausto: 'Como foi possível? Como foi possível?', interrogavam-se eles. A questão não é 'como foi possível?' A grande questão é: como é que não acontece mais vezes?» [citação de memória].
A transcrição está aqui: - You missed a very dull TV show about Auschwitz: more gruesome film clips and more intellectuals declaring their mystification over the systematic murder of millions. They can never answer the question: "How could it happen?" It's the wrong question. The question is: "Why doesn't it happen more often?" Of course, it does. I have a headache from this weather. It's been ages since I sat in front of the TV changing channels to find something. You see the whole culture: Nazis, deodorant salesmen, wrestlers, beauty contests, the talk show. Can you imagine the mind that watches wrestling? But the worst are the fundamentalist preachers. Third-rate con men telling the suckers that they speak for Jesus... and to please send in money money money. If Jesus came back and saw what's going on in his name, he'd throw up. - Frederick, could you please lighten up? I'm not in the mood to hear a review of contemporary society.
Reputação
Não sou marxista, mas fico sempre um pouco vaidoso quando me chamam isso.
No escurinho do cinema
Reparo que a cinemateca é a única sala de cinema que eu conheço onde as luzes permanecem apagadas durante o genérico final. Pergunto-me até quando isso irá durar.
Dor de cotovelo

Retirei a música anterior para arranjar espaço para esta. É uma espécie de réplica para a selecção de sambas que a Carla tem estado a fazer. Isto não é, evidentemente, um samba, embora a Elza Soares seja uma grande sambista. A canção é de Caetano Veloso, propositadamente escrita para o penúltimo disco de Elza Soares, de 2002, que aproveitou para título um verso daqui, Do cóccix até o pescoço (reparem no «até o», característico português do Brasil). Letra e música têm a cara de Caetano. Para a turma de meninas que está aí atrás a reclamar, e que só fica feliz quando se fala de Chico Buarque, cabe dizer que a primeira música deste cd foi escrita pelo compositor carioca e que o disco fecha com «Façamos (vamos amar)» (versão de «Let's do it») cantada em dueto por ele e pela diva.
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