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A Praia |
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«I try to be as progressive as I can possibly be, as long as I don't have to try too hard.» (Lou Reed)
quinta-feira, maio 25, 2006
Heteronímia
O psicanalista Carlos Amaral Dias sexta-feira, maio 19, 2006
Má sorte ter sido ****
In this context, Ms. Hirsi Ali's earlier remarks about the "terror" of "political correctness" have an unfortunate ring. It would have been better if she had taken this opportunity to speak up for the people who face the same problem that she did, of trying to move to a free European country, because their lives are stunted at home for social, political or economic reasons. By all means let us support Ayaan Hirsi Ali now, but spare a thought also for the nameless people sent back to terrible places in the name of a hard line to which she herself has contributed. [Ian Buruma sobre o caso Ayaan Hirsi Ali.]
Portugal obtém o reconhecimento internacional que lhe é devido
Modern history is full of governments rushing into disastrous wars. However we have to go back to Portugal's 1578 invasion of Morocco for the closest analog to Bush invading Iraq. King Sebastian was three when he came to the throne. Educated by fanatic Jesuits, he grew up with a passion for a crusade against Morocco. Advisors inherited from his father opposed him. Portugal had a lot on its hands in Brazil and the East Indies. But the more they argued against it, the more he surrounded himself with mad monks who thought a crusade was a terrific idea.Sebastian and 40,000 troops sailed away. Six, not 6,000, came back, none named Sebastian. The kingdom collapsed. In 1580 Spain marched in. Portugal literally disappeared from the map until 1640 when a nobles' revolt regained independence. The Jesuits and monks were Sebastian's neo-cons. Without them, no crusade. But he was king. He went to war, not them. If he wasn't crazy, he would have listened to dad's staff. [Daqui. Cortesia do Rui Tavares.] quarta-feira, maio 17, 2006
A caixa mágica [revisto]
Um taxista originário do Congo viu-se subitamente confundido com um especialista em tecnologias da informação e entrevistado em directo na BBC sobre o conflito legal que opõe a Apple e a Apple Corps. Há duas coisas de que eu gosto muito neste pequeno video - para além do ar espantado do taxista, quando o apresentam. A primeira é que ele começa por tentar uma espécie de negociação: «- Ficou espantado com este veredicto judicial?» «- Bem, fiquei espantado que este veredicto tivesse recaído sobre mim...» Há aqui logo uma ironia com a palavra veredicto, que não será propositada mas talvez também não seja totalmente acidental; e prossegue, tentando sugerir o equívoco, mas sem encontrar nenhuma receptividade da parte da jornalista. Ela, pelo contrário, continua, aparentemente sem se dar conta de nada; e o taxista faz o que qualquer de nós faria, embrulhando meia-dúzia de banalidades, procurando alinhavar uma lógica qualquer («is much better for development and to improve people...»). Se a confusão não tivesse sido desmascarada, isto seria notícia? Alguém repararia, sequer, que a conversa não fazia sentido? Ou era um minuto de televisão como outro qualquer? Toca-me, especialmente, a situação do entrevistado, o seu dissimulado pedido de auxílio, a forma como se desembaraça para limpar a face - a sua, a da jornalista e da estação. Quando se está em directo, uma entrevista é em certa medida um trabalho cooperativo, em que um segura as pontas ao outro.(A história aqui.) terça-feira, maio 16, 2006
Gado equino
Ricardo Araújo Pereira com uma fã (clique para ver o vídeo) segunda-feira, maio 15, 2006(A fonte é esta, mas só vai interessar a quem quiser saber coisas sobre o cheiro dos espargos.)
Imprensa (2)
«Vi Lisboetas, o filme documental de Sérgio Tréfaut, por duas vezes. A primeira por curiosidade, a segunda para me ajudar a escrever este texto. De ambas as vezes encontrei a sala cheia, mesmo ao dia de semana, para ver um filme com e sobre os imigrantes que chegaram nos últimos anos à capital do país. Lisboetas já ganhara o prémio de Melhor Filme Português, do festival IndieLisboa, o que é invulgar para um documentário concorrendo com filmes de ficção. E agora ultrapassa o primeiro mês de exibição comercial com excelente adesão do público, o que é invulgar para um filme português sem padres e nudez frontal. Para mim, isto significa que não só é preciso comentar o filme em si, mas também tentar encontrar as razões do seu sucesso. O que se segue são algumas notas sobre esse duplo tema. Ao contrário do que se costuma pensar, há um interesse tímido e envergonhado dos portugueses sobre os imigrantes, simplesmente cada vez mais tímido e envergonhado sob a barragem do oportunismo anti-imigrante. Mas por detrás dessa timidez, os portugueses perguntam-se. Quem são estas pessoas? Como vieram aqui parar? O que pensam sobre nós? Habituados ao isolamento, os portugueses desenvolveram uma espécie de narcisismo-masoquismo que teve o seu apogeu no sucesso recente de Portugal: o Medo de Existir, de José Gil. Lisboetas aplica um curto-circuito a esse círculo vicioso de narcisismo e masoquismo. Ao vermos os outros, percebemos que os nossos problemas não são assim tão especiais. Ao vermo-nos através dos olhos dos outros, ficamos a saber aquilo que não tivemos coragem de perguntar. O filme dá-nos um choque de realidade de que se necessitava há muito. Sente-se o desconforto do público perante as cenas no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, quando se vê a arbitrariedade (e, por vezes, ilegalidade) das exigências que são feitas aos imigrantes. E, no entanto, Sérgio Tréfaut só pôde filmar vinte minutos no SEF, com os funcionários plenamente conscientes de que estavam a ser filmados. Acreditem em quem vo-lo diz por experiência própria: aquilo não é a missa a um quarto da realidade do SEF. Ainda mais desconhecido do público é o mercado negro de mão-de-obra. Quando se fala de imigração ilegal, fala-se muito da oferta e nada da procura. No entanto, aqui vemos um angariador português em pleno conto-do-vigário, procurando trabalhadores sem lhes dizer nada sobre pagamento: "primeiro ver, depois pagar - tu quanto mereces, mais ou menos..." Quando lhe falam em contrato, boceja, olha para o relógio e vai-se embora impunemente. O primeiro alívio cómico do filme vem, aliás, quando vemos uma imigrante aprender a conjugação de "ser aldrabado": "eu fui aldrabada, tu foste aldrabado, ele foi aldrabado..." Pelos vistos, é bom aprendê-lo desde cedo. Depois desse choque de realidade, vem um banho de humanidade comum, um tão necessário como o outro. Não só para o filme em si, como para o próprio debate, é essencial não perder de vista que o imigrante é uma pessoa comum numa situação (para os residentes) incomum. Cria-se assim um efeito de reconhecimento quando vemos um paquistanês ligar para casa e tentar convencer o pai velhote a sacudir a depressão e alimentar-se bem: "Não tomes só comprimidos, come fruta também." Aquele é um homem como nós, que se preocupa com o pai e sente a mínima diferença na voz da mãe ao telefone. Uma ressonância familiar dá-se quando ouvimos os imigrantes falar do seu país: "a minha terra", dizem, "estive na terra". Não imaginam certamente, mas essa sempre foi a expressão com que ouvimos os lisboetas mais velhos falar do regresso às suas aldeias para as férias ou o fim-de-semana: "Estive lá para a terra." Afinal de contas, há poucos lisboetas que não tenham uma outra sua "terra". Que ela antes fosse na Beira Baixa (ou em Cabo Verde) e que agora seja na América do Sul é apenas efeito da diminuição no tamanho do mundo. Quando menos esperamos, damo-nos conta de como os filhos dos imigrantes têm já, nas suas vidas, um tronco comum com as nossas. Vemo-los ir à praia na Costa da Caparica e voltar de autocarro para Lisboa e lembramo-nos de repente que aquelas são as nossas memórias de infância. Quando forem adultos, entre estas crianças chamadas Dimas Kastchuk ou Cláudia Chen, com pais brasileiros ou nigerianos, muitos vão dizer: "Nasci na Maternidade Alfredo da Costa." Como qualquer lisboeta. O filme não nos enfia pela goela qualquer tipo de doutrina, e por isso tem recolhido o aplauso de críticos à esquerda e à direita. Estes novos lisboetas, como os velhos lisboetas, não são santos nem bandidos, embora haja certamente de uns e de outros como sempre. Contudo, ao assumir os estrangeiros como lisboetas, é um filme que provoca uma alteração fundamental na nossa noção de imigração. Quando saímos dele, percebemos que isto não se resume ao direito dos imigrantes a estarem cá, mas também, que raio, ao nosso direito de os ter cá. Até porque precisamos: sem migrações, pouco se aprende ou evolui. Temos portugueses em todo o mundo e começamos a ter gente de todo o mundo em Portugal. Uns e outros lembram-nos que não somos isolados nem estamos sozinhos. Costuma dizer-se que, no meio de uma crise e 32 anos depois do 25 de Abril, temos de pensar em que Portugal queremos para o futuro. Lisboetas é um excelente ponto de partida.» [Rui Tavares, no Público, 13 de Maio de 2006] domingo, maio 14, 2006
Imprensa
Os três diáriosSolveig Nordlund Público (Mil-Folhas), 13.5.2006 Ingmar Bergman conheceu Ingrid von Rosen em 1957. Era uma mulher da aristocracia, casada e com uma vida completamente estabelecida. Apaixonaram-se e mantiveram durante anos uma ligação clandestina. Depois de 12 anos, Ingrid não aguentou mais a vida dupla e mudou-se para a casa de Ingmar Bergman na ilha de Faro, abandonando os quatro filhos. E uma das crianças, Maria von Rosen, que na altura tinha 11 anos, só muito mais tarde soube que o seu pai era Bergman. Ela, que tinha aprendido a odiar o homem que lhe roubou a mãe. Ingrid e Ingmar viveram 24 anos juntos. Até que, em 1994, ela adoeceu e lhe foi diagnosticado um cancro. Entre os primeiros sintomas, operações e quimioterapia, até à agonia final, passaram seis meses. Durante este tempo, tanto Ingrid como Ingmar como a filha de ambos, Maria, tentaram compreender o que lhes aconteceu, e cada um escreveu o seu diário. Agora reunidos, estes três diários são uma descrição única da catástrofe, que é a morte. O livro começa com Ingrid a visitar o médico. Há uns tempos que tem dores na barriga e suspeita ter uma úlcera. Mas a radioscopia revela que se trata de um tumor que tem de ser operado imediatamente. A primeira reacção de Ingrid é preocupar-se com Ingmar. Trata de arranjar uma governanta que a substitua durante os tratamentos. Ingmar diz que é como acordar de um sonho. Compreende que a sua infância - de 76 anos - acabou. Quer retribuir tudo o que Ingrid lhe tem dado mas não sabe como. Acaba de iniciar os ensaios do "Misantropo" de Molière no Teatro Real de Estocolmo. Não sabe se deve abandonar os ensaios. Ingrid acalma-o com um: "Julgas que te quero a andar aqui por casa comigo neste estado?" Tudo continua, tanto quanto possível, como dantes. Até ao fim, Ingrid leva Ingmar de automóvel até ao teatro, cozinha para ele, trata das suas contas. Ingmar ensaia e estreia o "Misantropo" e começa a ensaiar as "Bacantes" de Eurípides, além de concluir uma produção para televisão. Estes trabalhos são mencionados no diário dele mas não no dela. O amor profundo, a paixão mesmo, que os une não parece exigir troca de impressões sobre o trabalho artístico. Encontram-se ao fim do dia, em frente dum programa de televisão banal, partilhando um gelado. É o momento alto do dia. A confidente de Ingrid é Maria, que acaba por transformar-se em mãe da sua própria mãe durante este período. Maria fica muitas vezes furiosa com a incapacidade de compreensão de Ingmar para com as necessidades da mãe mas reconhece que foi a própria Ingrid quem o habituou a ver nela só a imagem que lhe convém. Quando a doença evolui, e Ingrid já não consegue manter as aparências, a relação dos dois deteriora-se. Ingrid quer ir para casa, Ingmar quer que ela fique no hospital, ela fica magoada. No último período, nem quer que ele a venha visitar, prefere falar-lhe apenas pelo telefone. E Ingmar fica engripado, a sua anca, operada há cinco anos, começa a doer - e são tudo razões para a não poder visitar. E Maria observa isto tudo tentando defender a mãe ao mesmo tempo que sente compaixão pelo pai. Quando Ingmar lhe diz que tem saudades de Ingrid, a filha pergunta: "Também dela doente?" "Também", diz Ingmar depois de uma leve hesitação. # INGMAR BERGMAN E A SUA FILHA INCÓGNITA 3 DAGBOCKER (3 Diários) Maria von Rosen Ingmar Bergman 283 págs. Norstedts 2004 Preço SEK 279,00 sábado, maio 13, 2006
Gostar da Katia
Talvez se surpreendam quando repararem que a música que mais recentemente acrescentei à minha playlist («Segredos») é interpretada pela dona Katia Guerreiro. Eu também me surpreendi. Conheci a dona Katia em primeiro lugar como personalidade política, pelo papel que desempenhou na campanha do «Professor». A deferência com que se referia à autoridade sábia, combinada com o apelo à demagogia mais rasteira, fez da dona Katia um símbolo bastante exacto do cavaquismo, neste infeliz regresso ao passado. Mas a dona Katia, que só descobri há dias como fadista, é uma grande fadista. Não tenho os termos certos para falar destas coisas, de modo que terão de perdoar-me por dizer que a dona Katia me faz lembrar Lapsang Souchong. Lapsang Souchong é um chá que sabe a fumo. Ora, saber a fumo pode parecer uma coisa má, excepto que é muito agradável, porque entre nós e o sabor, entre nós e o prazer, se estabelece uma espécie de filtro. Acho que a voz da dona Katia é um bocadinho assim: ela não canta de forma muito directa, nem muito transparente. Tem uma voz que parece velada, como se tivesse no meio uma cortina de fumo. Estou viciado.
A partição do Iraque
Não só o artigo que o maradona cita não presta (post: «Ninguém me ouve») como a posição que defende tem todo o ar de ser perfeitamente insensata.The first problem is that Iraq does not have a neat set of ethnic dividing lines. There has never been a meaningful census of Iraq showing exactly how its Arab Sunnis, Arab Shiites, Kurds and other factions are divided or where they live. The two elections held since the toppling of Saddam Hussein have made it clear, however, that Iraq's cities and 18 governorates all have significant minorities. Thus any effort to divide the country along sectarian and ethnic lines would require widespread "relocations." This would probably be violent and impoverish those forced to move, leave a legacy of fear and hatred, and further delay Iraq's political and economic recovery. (...) And of course, there is no way to divide Iraqi that will not set off fights over control of oil. More than 90 percent of Iraq's government revenues come from oil exports. The Sunni Arab west has no developed oil fields and thus would have no oil revenues. The Kurds want the northern oil fields, but have no legitimate claim to them and no real way to export the oil they produce (their neighbors Iran, Syria and Turkey have restive Kurdish populations of their own and thus no interest in helping Iraq's Kurds achieve self-sustaining freedom). Control of Basra would also be an issue, with various Shiite groups looking to separate and take control of the oil in the south. (...) with Iraqi Sunnis cut out of oil money, Arab Sunni states like Egypt and Saudi Arabia would be forced to support them, if only to avoid having the Islamist extremists take over this part of Iraq. Iran, of course, would compete for the Iraqi Shiites. The Kurds have no friends: Turkey, Iran and Syria would seek to destabilize the north and exploit the divisions between the two main Kurdish political unions. In the end, these divisions could spill over into the rest of the Middle East and the Arab world, creating a risk of local conflicts and the kind of religious tension that feeds Islamist extremism. (...) Even if one could overlook the fact the United States effectively broke Iraq and has a responsibility to its 28 million people, it is impossible to deny that leaving behind a power vacuum in an already dangerous region is hardly a viable strategy. [Anthony Cordesman no New York Times] quinta-feira, maio 11, 2006
Eu
Eu sou uma criança adorável.
segunda-feira, maio 08, 2006
150
Sigmund Freud nasceu há 150 anos, a 6 de maio Não li o suficiente de Freud para poder escrever sobre ele como gostaria. Lendo os jornais ao longo da semana, constato que isso não é impedimento suficiente. Há duas ideias que me parecem centrais, a noção de que não dominamos a nossa cabeça e a compreensão de que isso não é um acidente patológico raro mas a condição normal, inevitável, do ser humano. Mesmo a importância que Freud deu ao sexo (não vou falar em «sexualidade», pois não pretendo suavizar as coisas) me parece, tendo em atenção a época, extraordinariamente perspicaz e relevante, ainda que eu não seja capaz de discutir em que medida é que ele estava certo (mas o que me interessa aqui não é a medida). Desse ponto de vista, alguns comentários das nossas figuras públicas nas revistas light são extremamente interessantes, porque são esses exactos pressupostos que insistem em negar, ou falam até como se os não conhecessem. Há o caso paródico de Adolfo Luxúria Canibal que diz que «não tem traumas» e há o caso de Inês Pedrosa que acha que sabe muito bem o que se passa na sua própria cabeça (não retive a frase; vinha na Visão da outra semana). Em contraste, as declarações altamente políticas e altamente polidas do padre Vítor Melícias também eram bastante cómicas. 100 anos depois da Interpretação dos Sonhos é nisto que estamos – salvo que a Sábado celebrava o século e meio do médico de Viena com duas páginas de descodificação dos sonhos, dentro do género: dentes é isto, pentes aquilo. As publicações mais sérias tão pouco me entusiasmaram. O Actual, do Expresso, dedicava um dossier de dezenas de páginas ao fundador da psicanálise, que só gente muito interessada e com muito tempo para gastar (como eu) poderia ter lido, enquanto constatava o genérico desinteresse da coisa. Freud e o cinema, Freud e a literatura, Freud e o teatro, Freud e as dissensões no interior da psicanálise, Freud e as mulheres, Freud e a Viena do seu tempo: o Expresso empenhou-se em que nenhum aspecto do autor ficasse por explorar. O problema, como é natural, é que a maioria dos jornalistas do Expresso, mesmo os do Actual, tem ideias vagas sobre Freud e não podia dizer nada de interessante. O trabalho de António Guerreiro e Luís Miguel Faria (ainda que muito neutro) era bem informado; Ana Cristina Leonardo, pelo contrário, estava numa fúria para condenar Freud – aliás: para denunciar Freud – coleccionando citações sobre as malfeitorias desse velho tarado. Uma sugestão, para a próxima vez: concentre-se numa só das malfeitorias e explique-a, porque com uma colagem de indignações não é susceptível de convencer ninguém. O DN esta sexta seguiu também o modelo enciclopédico com pouco resultado. Dá-me a impressão de que ninguém quer dizer nada sobre Freud: reconhece-se o seu lugar na «cultura», na «literatura», assinala-se que a psicanálise como terapia é «muito contestável», «de resultados incertos», mas não se pensa, não se propõe, não se discute, não se examina propriamente nada. Aliás, frequentemente reconhece-se o seu lugar na cultura e na literatura para economizar a argumentação, celebram-se os feitos estéticos para evitar discutir a substância das propostas. Ainda o que me impressionou mais foi a súbita conversão, de quadrantes de onde eu não o esperava, aos critérios popperianos para definir a ciência, que ajudam a explicar que a psicanálise não é, «de forma nenhuma», uma ciência, porque «não é refutável». Como se não tivesse havido nem Kuhn e os seus «paradigmas», nem sequer Lakatos e os seus «programas de investigação científica», já para não falar de Feyerabend, sempre mais difícil de digerir. Gostei da abordagem da Pública, muito mais modesta, muito menos enciclopédica: a entrevista de Alexandra Lucas Coelho a vários psicanalistas tinha ideias muito boas (sobretudo Coimbra de Matos), a conversa com António Damásio não era nada inútil e mesmo a discussão das cartas de Fliess, um dos aspectos mais problemáticos da biografia e da teoria freudianas, não tinha um tom de denúncia mas de reflexão informada sobre os aspectos mais sombrios da psicanálise e do seu pai. Gostaria de saber mais. Comecei Freud por A questão da análise leiga, uma excelente introdução, de uma clareza meridiana, um diálogo com um interlocutor ficcionado que põe muitas das questões que hoje, diariamente, se colocam a Freud como se ele nunca as tivesse discutido. Ler mais só depende de mim. Ler os críticos de Freud é mais difícil, porque a indignação atabalhoada está por todo o lado. É o que diz o aldaily: Sometimes a birthday is just a birthday. But Prof. Freud’s will never be so simple... Começar aqui.
Cientificamente
É como diz Tom Zé: «cientificamente falando, os dedos são pênis multiplicados.»
Um Guevara na Estefânia
O rapaz é muito lido, conservador, pessimista antropológico. Chega o amor e começa logo a soar ao Guevara. quarta-feira, maio 03, 2006
Melancómico (2)
[excerto do Manual do Aluno do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, na novilíngua original. Via Canhoto.] Todos os colaboradores permanentes do IEP devem trajar com a decência e formalidade adequada [sic] às responsabilidades que detém [sic], o que inclui, para os homens, casaco e gravata, e, para as mulheres, decência correspondente. Na sala Sir Winston Churchill e nos gabinetes de trabalho é esperado [sic] que os homens possam tirar o casaco, mas não a gravata. (…) Gentlemanship: nenhuma regra pode substituir o sentido de responsabilidade pessoal, o common sense e o sentido de humor de cada pessoa. Peço que leiam estas regras e que as critiquem se não concordarem. Se concordarem, peço que as apliquem – sem rigidez prussiana e sem laxismo mediterrânico. (…) Bom trabalho e boa sorte. Que Deus nos ajude. João Carlos Espada Director
Melancómico
O Melancómico interrompeu a sua actividade, mas deixa herdeiros. A secção Vox Populi do Público pergunta hoje:Muda com frequência de emprego ou está há vários anos no mesmo local? Ao que responde Fabiana Santos, manicura, 22 anos: «Não. Estou empregada há dois anos e já estive noutra empresa durante 14 anos.» Links
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