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A Praia

«I try to be as progressive as I can possibly be, as long as I don't have to try too hard.» (Lou Reed)

teguivel@gmail.com

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quinta-feira, dezembro 30, 2004

Um espaço para o espanto
O Bloco de Esquerda explicado por João Miguel Tavares:

A sua teologia entronca nos elementos fundamentais da doutrina (...), não havendo espaço para o acessório as celebrações limitam-se a uma série de cânticos muito simples e repetitivos, à proclamação da palavra e, quando muito, à partilha do pão. De fora fica toda a ganga dogmática que atafulha o pensamento dos crentes e que só serviu ao longo dos séculos para separar e estigmatizar. (...) A dimensão estética da crença é muito valorizada (...).
 
Eu hoje acordei assim...

Nicolas Cage em Peggy Sue Got Married (1986)

... suponho que está na altura de ir cortar o cabelo.
 

segunda-feira, dezembro 27, 2004

O que está a tocar
Era a minha música preferida em 1984. Não vou dizer o nome para não tirar a graça, mas esta versão é de Erlend Oye, o rapaz dos óculos dos Kings of Convenience, e faz parte de uma compilação de músicas de natal publicada em 2002. Devo-a ao Pedro Adão e Silva, que ma passou.

 
Entrevista de Chico Buarque
Recebi, graças a um amigo, uma entrevista de Chico Buarque à Folha de São Paulo que só está disponível para assinantes. Transcrevo aqui largos excertos: pareceu-me excelente, e ajuda a desenjoar do pessoal dos wunderblogs e do Mainardi, sem dúvida talentosos, mas que correspondem perfeitamente ao reaccionário de salão de que fala o Chico.

(...) Eu tendo a acreditar nos economistas quando dizem ser impossível gerenciar países como o nosso de outra forma. Quem sou eu para opinar? Eu me sinto muito diminuído, tenho pouco interesse em me manifestar, da mesma forma que tenho pouco interesse em ler opiniões de leigos, de gente desavisada a esse respeito. (...)
Folha - Você se vê pressionado a falar sobre esses assuntos?
Chico - Eu cada vez mais me abstenho por reconhecimento da minha limitação, da minha ignorância. Aí eu sou realmente modesto. Não sou modesto em relação ao que eu faço como artista. Mas, sobre os rumos ou possibilidades do país, não vejo honestamente que contribuição eu possa dar.
O que eu posso fazer é só constatar minhas perplexidades, meus receios diante desse quadro cada vez mais assustador. Como não se vê perspectiva de mudança a curto ou mesmo a médio prazo, a sociedade toda é levada a um certo conformismo, ou mesmo a um cinismo. Na alta classe média, assim como já houve um certo esquerdismo de salão, há hoje um pensamento cada vez mais reacionário, com tintas de racismo e de intolerâncias impressionantes. O medo da violência na classe média se transforma também em repúdio não só ao chamado marginal, mas aos pobres em geral, ao sujeito que tem um carro velho, ao sujeito que é mulato, ao sujeito que está mal vestido. (...) Ser reacionário se tornou de bom tom.
(...) Parece que há uma certa vergonha de ter um presidente como o Lula, um operário, um sujeito com um dedo a menos e que fala errado. Uma vergonha de ver o Lula representando o país lá fora. (...) Deveria ser também motivo de satisfação ter tido um professor, um sociólogo como o Fernando Henrique na Presidência. Foi um progresso. Nós vínhamos de anos e anos de generais, que não eram eleitos, depois tivemos o Sarney, acidentalmente, o Collor e o Itamar. A eleição do Fernando Henrique foi um salto qualitativo. É um intelectual, um homem com estofo. Agora, também não concordo com aquela satisfação que se viu no nosso meio - «é um de nós, finalmente». Não quero um de nós na Presidência [risos]. Não quero ser presidente. Não gostaria que meu pai fosse presidente da República. Não é por aí. Também não acho que o fato de o Lula não ter curso secundário completo seja em si uma virtude. Virtude é ele poder ter sido eleito. Ele pode ser um bom ou um mau presidente. O Brasil ter eleito Lula contradiz tudo o que eu disse há pouco a respeito de um país que parece cada vez mais estar contra gente como o Lula. E volto a repetir: não vejo apenas um sentimento contra o marginal, o traficante, o ladrão. Mas contra o motoboy, contra o desempregado, contra o sujeito que não fala direito, isso apesar de a elite brasileira falar muito mal o português. (...)
Folha - Você não quis incluir os seus jogos de futebol e a sua paixão pelo futebol como tema dos programas que está gravando. Qual a razão?
Chico - Todo mundo sabe que eu adoro jogar bola, que eu gosto de futebol. Já sabem até onde jogo bola. Então, vira e mexe, aparece alguém lá para tirar foto, essas coisas. Aí o futebol vira um acontecimento. Talvez até mais porque eu não esteja fazendo show, não esteja me exibindo em público, o futebol vira uma ocasião de exibição, como se eu quisesse me exibir jogando bola. Não é o caso. Aquilo não é uma exibição. Por isso achei melhor deixar de lado.
(...) Eu em geral não vou mais a estréias, porque muitas vezes a platéia trabalha mais que o artista. Tem que estar bem vestido, a sua roupa vai ser comentada, essas bobagens todas. Minha empregada outro dia ficou com vergonha porque apareci com a mesma camisa em dois acontecimentos sociais [risos]. Isso deve ter ocorrido mesmo. Acho que não estava atento ao meu figurino [risos]. Além disso, você é quase sempre solicitado a fazer resenhas críticas no corredor do teatro, tem que sair de casa preparado para estar inteligente, dizer se gostou, por que gostou. Isso quando não enfiam o gravador na sua cara na saída do cinema para saber o que você achou da reunião do Copom, se você acha que a taxa de juros vai cair meio ponto, se o viés é de baixa ou de alta.
Folha - Você convive com assédios variados há muito tempo. Isso mudou de uns tempos para cá?
Chico - Piorou muito. Isso não era assim. No tempo em que nós andávamos expostos, raramente acontecia de sair uma nota dizendo «fulano foi visto bebendo em tal bar». Todos os dias nós estávamos no Antonio's - o Vinícius de Moraes, o Tom, o Rubem Braga, eu. Falavam-se barbaridades, brincava-se muito, bebia-se à beça. Se alguém estivesse por perto anotando, acabava, o Antonio's fechava. Nós andávamos por aí. Ninguém fotografava. (...)
Folha - O Rio, onde você mora há muito anos, também mudou muito de cara, em termos sociais. Na sua música, quando a gente pega, por exemplo, dois sambas como «Estação Derradeira», de 1987, e «Carioca», de 1998, percebe-se com clareza essa mudança. Os personagens são outros, a atmosfera é outra, a barra é muito mais pesada, apesar dos muitos encantos da cidade. Como você sente isso no dia a dia?
Chico - O clima hoje na cidade é muito mais pesado. Para não falar lá de cima, na própria zona sul já há territórios demarcados. Eu conheci a praia como um espaço democrático. Hoje em dia já se sente no ar a idéia de que vai existir logo uma fronteira entre Ipanema e o Leblon. Tem um pessoal na altura do Jardim de Alá [moradores de um cortiço na rua do canal que divide Ipanema e Leblon] que desce ali e ocupa a praia. Vira uma paranóia, vira uma hostilidade com esses garotos que ficam circulando ali. Assaltar na praia é o pior negócio que existe. De vez em quando acontece. No dia seguinte, vem a polícia e enfia os meninos no camburão, quando não faz coisa pior. Eles querem tirar da praia, sumir com eles dali. Não vai ter onde botar esses meninos. As soluções sugeridas para isso, as coisas que eu leio nas cartas dos leitores dos jornais, em geral são fascistas.
Virou moda responder a quem defende os direitos humanos com o trocadilho infame dos «humanos direitos» contra os vagabundos que nos retiram o direito de andar livremente pelo calçadão. Isso quando não se defende abertamente a pena de morte, a reclusão dos garotos de rua, a diminuição da maioridade penal, a prisão perpétua. Eles querem exterminar com os pobres do Rio. Se puderem sumir com aquilo tudo - ótimo. Os meninos são os inimigos, são os nossos árabes, são os nossos muçulmanos.
Folha - E o problema cada vez mais grave do tráfico, como fica? Porque o tráfico virou talvez a única perspectiva de ascensão social, ou de possibilidade de um enredo vitorioso na cabeça de um menino morador da favela.
Chico - É. Assim como o futebol ou o pagode, o tráfico virou um veículo de ascensão, de chance de ter dinheiro, poder, mulheres e fama, mesmo ao preço de uma vida muito curta. É o que se reserva para um menino sem estrutura familiar, sem emprego, sem quase nada. Eu não vejo outra saída para a violência ligada ao tráfico senão a descriminalização de alguma forma, não sei se total ou parcial, das drogas.
Lembro de ter lido nos jornais que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, era favorável a essa idéia quando tomou posse. Não sei porque o governo não levou e não leva essa discussão adiante. (...) Talvez pensem que não é o momento de enfrentar o problema em razão de alianças e de compromissos com os evangélicos do PL, essas coisas. Mas se não enfrentarem o problema agora, quando é que vão enfrentar? Se o Lula não enfrentar... (...) O Lula sabe muito bem o que é isso. Se não encarar isso, não sei quem vai fazer. Não entendo por que não se discute isso a sério.
Folha - Você acha que o governo, para além dos constrangimentos econômicos, está deixando escapar entre os dedos oportunidades históricas de intervenção social?
Chico - Acho. Acho. Entendo os compromissos, o FMI, a dívida, etc. Tudo bem. Mas isso não tem nada a ver com essas outras omissões. Ou é isso ou é a Bíblia.
 

domingo, dezembro 26, 2004



Já vi Côte d’Azur, Nápoles, Hong Kong. Nada se compara à avenida Atlântica vista do 24º andar do Othon Palace no Rio. Copacabana é ainda um dos espectáculos naturais mais belos da Terra.
[Paulo Francis, O Estado de São Paulo, 19/9/93]
 

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Presépio

Uma espécie de berço
 

quinta-feira, dezembro 23, 2004

8 1/2


Elas concordaram em que já não há homens como o Mastroianni. Nós concordámos em que elas não tinham visto o filme.
 
O mistério da Santíssima Trindade
Dogma e mistério centrais da fé cristã: a doutrina da Trindade, exposta na estrutura tripartida do símbolo dos apóstolos, ensina que Deus é, absolutamente, uno na Sua natureza e na Sua essência, e é, relativamente, trino nas pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo, iguais em tudo, mas realmente distintas entre si. Trata-se de um mistério no sentido estrito do termo, de que o homem apenas tem conhecimento através de uma revelação especial de Deus. Vá lá entender-se isto: três pessoas são apenas uma.

[adaptado da Enciclopédia do Público]
 
Até a secção de cartas
Última sugestão de presente de Natal: uma assinatura do Economist. É tudo tão bom que até a secção de cartas:

SIR – Tom Wolfe's characterisation of co-ed life in the Ivory Tower is far from true, at least for this Ivy Leaguer. My life would surely be much more amusing if I were living in his fictitious Bacchanalia with a gangsta-rap soundtrack. As it is, I'm living in a house with nine guys and I'm still not getting any.
Elizabeth Maples
Providence, Rhode Island
 
Sugestões para presentes de Natal (3)


Requiem, uma oração para descanso da memória dos desaparecidos, um livrinho pequenino. Na edição actualmente à venda é complementado por um posfácio em que Tabucchi explica as circunstâncias, e as «razões», que propiciaram que tivesse escrito este texto directamente em português. Talvez possa também ser usado como um roteiro de Lisboa, porque é um passeio pela cidade. Nunca experimentei no plano prático, talvez devesse.

As coisas que sugiro não foram publicadas este ano, pois não - deviam tê-lo sido? Às vezes parece que os livros, os filmes e os discos caducam tão depressa como os jornais em que são anunciados. Outro dia fiquei impressionado porque num programa de televisão alguém se atreveu a sugerir um livro que não era recente. As coisas publicadas há mais de seis meses não existem? Toda a gente as leu? «Ah, não: confesso que não li». A frase «não li» é uma «confissão».
Livros que não li seria uma boa rubrica para - por exemplo - um blog. É uma lista infinita. Todos os que não li e estão aqui nas estantes têm uma história; posso falar mais ou menos longamente sobre eles, sem nunca os ter lido.

O Requiem eu li. Se não tivesse lido seria outra história.
 

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Não deixem de ler
Literalmente, o poema do ano.
 
Sugestões para presentes de Natal (2)


Esta coletânea do Cohen, em dois cd's, tem um total de 31 canções, cobrindo praticamente todos os discos desde 1968 a 2001. A seleção foi feita pelo próprio Cohen. Permite ter no espaço de duas horas uma perspectiva do conjunto e está organizada por ordem cronológica. Acho que é indispensável mesmo (ou sobretudo) para quem gosta o suficiente para ter a obra completa. Mas também é bom para os outros.
 
Belo poema - o autor é o Groucho Marx.
 
Hoje assim...
[o maior meme da blogosfera]



[se não clicarem na imagem para ouvir a música em real player, não tem graça.]
 

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Sofia
(Conversa com o jornaleiro)

- Tem o livro que saiu com o Público ontem? Vanessa na cidade.
- Deixe-me ver...
(Vai ver.)
- Não tenho. Mas posso encomendar. Como é que se chama? Sofia?
- Vanessa.
- Vanessa Sofia?
- Não. Vanessa na cidade.
 
 
Tendo paciência para o estilo palavroso e chato do New York Times, vale talvez a pena ler este longo artigo sobre a privacidade e a blogosfera: especialmente sobre a difusão de mexericos, inconfidências e boatos relativos à vida íntima, incluindo sexual, das pessoas, sobretudo comum em blogs anónimos e caixas de comentários.
 

sábado, dezembro 18, 2004

Eu hoje acordei assim...


(Sem contar com a Elizabeth Shue, evidentemente.)
 

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Falhar o momento
«São Paulo é o túmulo do samba», disse Vinicius numa noite infeliz de 1960. Mas enganou-se. Este domingo, Zeca Pagodinho e Paulinho da Viola vão fazer um show juntos lá no Credicard Hall, e ainda com a Velha Guarda da Portela. Francisco, imaginas a pena que tenho de não estar aí. Pensar no Brasil não é a mesma coisa que estar no Brasil.
 
Os melhores anos
Naquele tempo ninguém nos disse que eram os melhores anos das nossas vidas. No meu caso não era preciso: isso era ostensivo.
 
Exportar a criançada
Os apuros em que se viu metido David Blunkett, o ministro do interior britânico que se demitiu esta semana, ter-me-iam provavelmente suscitado pouco interesse não fosse um texto do Economist de há quinze dias. Como diz o Economist, Blunkett deve ser o primeiro político a meter-se em sarilhos por querer assumir a paternidade de um filho ilegítimo. Acresce que o ministro que declaradamente violou o nono mandamento é cego de nascença, e nasceu pobre: ingredientes que chegam para dar a este episódio uma dimensão de drama moral fora do comum. O artigo do Economist explora isso com as habituais ironia e elegância de estilo. Não recua nem num subtítulo a que chama «Blind Ambition». A ler.

No âmbito desta história em que Blunkett cai por, possivelmente, ter tentado obter um visto de trabalho para a baby-sitter filipina que trabalhava para a sua amante, no Economist de hoje há outro texto, que transcrevo aqui à especial atenção do Francisco José Viegas.

The servant problem - A modest proposal
The Economist, Dec 16th 2004

How to solve the biggest issue in modern politics

Forget Iraq and budget deficits. The most serious political problem on both sides of the Atlantic is none of these. It is a difficulty that has dogged the ruling classes for millennia. It is the servant problem.
In Britain David Blunkett, the home secretary, has resigned over an embarrassment (or one of many embarrassments, in a story involving his ex-girlfriend, her husband, two pregnancies and some DNA) concerning a visa for a Filipina nanny employed by his mistress. His office speeded it through for reasons unconnected to the national shortage of unskilled labour. Mr Blunkett resigned ahead of a report by Sir Alan Budd, an economist who is investigating the matter at the government's request.
In America Bernard Kerik, the president's nominee for the Department of Homeland Security, withdrew last week because he had carelessly employed a Mexican nanny whose Play-Doh skills were in better order than her paperwork. Mr Kerik also remembered that he hadn't paid her taxes. The nominee has one or two other «issues» (an arrest warrant in 1998, and allegations of dodgy business dealings and extra-marital affairs). But employing an illegal nanny would probably have been enough to undo him, as it has several other cabinet and judicial appointees in recent years.
There is an easy answer to the servant problem — obvious to economists, if not to the less clear-sighted. Perhaps Sir Alan, a dismal scientist of impeccable rationality, will be thoughtful enough to point it out in his report.
Parents are not the only people who have difficulty getting visas for workers. All employers face restrictive immigration policies which raise labour costs. Some may respond by trying to fiddle the immigration system, but most deal with the matter by exporting jobs. In the age of the global economy, the solution to the servant problem is simple: rather than importing the nanny, offshore the children.

Make mine a monoglot
Many working parents would hardly notice the difference, and there would be clear advantages beyond lower child-care costs. Freeing up rich-country real estate currently clogged with cots and playpens would lower rents; liberating time currently wasted in story-telling and tummy-tickling would raise productivity. For parents who wished to be present at bed-time, video-conference facilities could be arranged.
Luddites and sentimentalists will whinge about the disadvantages of raising a brood in, say, Beijing. Language, for instance: what if one found oneself in possession of a posse of mini-Mandarin speakers? Yet in the age of global culture, few sensible modern parents are susceptible to such small-mindedness. If they were, they wouldn't so commonly leave their offspring in the care of monoglot Mexicans or Poles.
Unthinking conservatism may spawn resistance to this eminently sensible idea. But politicians, the people most often embarrassed by the servant problem, should be keen to popularise it—not just for themselves, but also in the national interest. Offshoring could help solve several problems afflicting rich-world economies, including that of ageing populations: after all, you get more bairns for your buck in Bangalore. And why stop at toddlers? Difficult teenagers, the offspring most liable to vex political parents, could be conveniently removed: imagine how much easier George Bush's life would have been had his twins been confined to, say, Pyongyang.
 

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Eu hoje acordei assim...


Desfocado.

- Honey, I'm... out of focus.
- Daddy's out of focus! Daddy's out of focus!
- Stop that! Daddy doesn't need that!

[Deconstructing Harry, de Woody Allen]
 

terça-feira, dezembro 14, 2004

Paradoxo das boas maneiras
Coisa mais grosseira é dizer a alguém que é mal-educado.
 

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Três dicas do jornal de hoje
Vale a pena ler a carta do director da revista Turbo ao Inimigo Público (não está online). Indignado com um artigo de Marcos Pombal de há duas ou três semanas, o director da Turbo chama-lhe homossexual e filho-da-puta. Mas não assim, não directamente. Convém apreciar a subtileza e o humor do director da Turbo, que não vou dizer que é comparável ao das letras das canções do Quim Barreiros porque, num dos casos, é literalmente copiado de uma letra do Quim Barreiros (o «carro» e a «garagem»).

Humor involuntário é o de Rui Baptista – que também tem um blog – num texto de elogio à telenovela Gabriela. Refere-se à música do «Quarteto em Si». O Quarteto em Cy é um famoso conjunto vocal brasileiro que deve o nome ao facto de ser formado pelas irmãs Cyva, Cybele, Cynara e Cylene.

No Público também, há o anúncio da chegada a Portugal da «Ópera do Malandro» de Chico Buarque, em Fevereiro e Março próximos. Chamo a atenção para que é a primeira vez desde 1978 (data da estreia, com Chico Buarque como encenador) que a Ópera do Malandro é levada ao palco. Foi um sucesso absoluto em 2003 e 2004 no Rio de Janeiro (onde esteve mais de um ano em exibição) e em São Paulo. Para mim, que conhecia todas as canções mas não o enredo, foi especialmente curioso. Imagino que os bilhetes sejam caros, mas, pelos meios que envolve, é peça que raramente volta ao palco: não convém perder.
 

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Os professores de Direito são todos uma cáfila de reaccionários, isso é verdade.
 

domingo, dezembro 05, 2004

Entrevista com Fred Halliday
A Pública traz hoje uma entrevista a Fred Halliday, integralmente disponível online, de que reproduzo aqui os excertos que me parecem mais significativos - sobretudo os que se relacionam directamente com a área de especialidade de Halliday, o Médio Oriente, e em particular o Irão e o Afeganistão. A visão de Halliday, que na conferência de 23/11 em Lisboa se apresentou declaradamente pessimista quer em relação às perspectivas de paz para a Palestina e Israel no espaço da próxima geração, quer em relação à possibilidade de evitar que a prazo o Irão obtenha armamento nuclear, estabelecem um marcado contraste com a soberba com que, entre nós, os defensores da administração Bush defenderam no ano passado os benefícios da intervenção militar americana no Iraque.

Há uma insurreição internacional que usa o terrorismo
Entrevista a Fred Halliday por Sofia Lorena, Pública, 5.12.2004

Fred Halliday nasceu em Dublin em 1946. Estudou Política, Filosofia e Economia em Oxford e passou ainda pela London School of Economics, onde é desde 1983 professor de Relações Internacionais. Com uma obra vasta, a reflectir interesses que passam pelo estudo das revoluções contemporâneas e da teoria das relações internacionais, dedica-se há mais de três décadas ao estudo dos países do Médio Oriente. Lamenta, como académico, «o fracasso completo da sociedade ocidental, da universidade ocidental, em produzir peritos nestes países». Diz que não há hoje em todo o mundo mais de 30, «um número catastrófico, se comparado com o número de pessoas que durante a Guerra Fria estudavam a Rússia». Inclui-se neste grupo e assume a responsabilidade de não ter conseguido ajudar a formar verdadeiros especialistas dedicados ao mundo árabe e muçulmano, cujos problemas serão por «muito tempo» os mais importantes para a Europa. É autor, entre muitos outros, de Islam and the Myth of Confrontation e Two Hours That Shook the World: September 11 2001, Causes and Consequences. Esteve em Lisboa a convite da Universidade Nova e da Fundação Mário Soares (...).

Halliday: Bush já mostrou duas coisas no primeiro mandato: tem uma agenda clara, que é a agenda dos neo-conservadores, e (...) é capaz de enganar as pessoas sobre as suas intenções. E agora tem a autoridade de ter sido eleito de forma clara, e tem o Congresso. Em termos internacionais, penso que as coisas são um pouco incertas, não porque ele queira consultar outros estados, mas porque reconhece, em alguma medida, os limites do poder americano. Temos dois exemplos óbvios: um prende-se com a China, país que já não critica e com que desenvolveu uma relação bastante especial; outro, o Irão. Penso que analisa duas opções em relação a esse país. (...) Não estamos a falar de uma invasão, mas de uma possível acção militar. Sabemos que a Força Aérea americana preparou várias centenas de mísseis de penetração para atacar as localizações nucleares suspeitas do Irão e que tem estado a levar a cabo voos muito cuidadosos no país. Penso que gostariam de atacar o Irão, penso que os seus colaboradores pró-israelitas gostariam que eles atacassem o Irão, mas, por outro lado, reconhecem os riscos: isto provocaria inúmeros problemas no Iraque, onde os iranianos retaliariam, e, em segundo lugar, retaliariam contra Israel, têm centenas de mísseis com o Hezbollah no Líbano. (...) A um nível mais abrangente, e isso é o que me preocupa mais, [Bush] não aprendeu nenhuma lição sobre a guerra contra o terrorismo. Há uma verdadeira ameaça de insurreição que usa o terrorismo, em países como o Afeganistão, o Irão ou o Iémen, e que opera internacionalmente. Por outro lado, há condições políticas que deviam ser tidas em conta, e duas em particular. Primeiro, não é possível resolver o problema dos muçulmanos e da insurreição no mundo islâmico se não se enfrentar seriamente a questão da Palestina. Sharon é o melhor agente de recrutamento de Bin Laden. Em segundo lugar, não é possível compreender este terrorismo se não se vir que as origens estão na Guerra Fria e que os Estados Unidos, o Reino Unido e a Arábia Saudita carregam uma responsabilidade significativa na sua emergência porque o promoveram nos anos 1980 contra a União Soviética. Até que se reconheçam estes dois níveis políticos não se farão progressos. (...)

P: É bastante mais optimista em relação aos desenvolvimentos no Iraque do que no Afeganistão.

Halliday: O Afeganistão é um país sem um estado centralizado, onde a maior fonte de rendimentos é o ópio e onde o desarmamento das milícias é uma anedota. De momento, há uma espécie de trégua que permite ao Governo de Karzai manter-se, mas não vejo nenhuma possibilidade de transição para um estado moderno. Quando a comunidade internacional perder o interesse, os senhores da guerra vão tornar-se mais poderosos outra vez e, mais importante, os taliban vão aproveitar-se disso. Não há um verdadeiro compromisso internacional: as forças da NATO estão estacionadas em poucas áreas, o dinheiro para os grandes projectos de reconstrução não está lá.

P. E em relação ao Iraque, a transição é possível, apesar da guerra?

Halliday: Há possibilidade de se conseguir uma transição para algum tipo de sistema político legítimo no próximo ano. Mas isso requer a incorporação das forças não governamentais no processo político e, claro, a boa vontade dos vizinhos. E aí regressamos aos Estados Unidos: se eles provocam os iranianos, há uma receita para a explosão.
(...) O principal problema não é a situação de segurança em certas cidades sunitas, mas saber se os representantes das principais forças concordam com o princípio de apoiar as eleições e de aceitar o seu resultado e se são incorporadas no governo. (...) É perfeitamente possível ter umas eleições ganhas de força esmagadora pelos xiitas e em que os sunitas não votam mas em que, depois do escrutínio, os xiitas convidem os sunitas. (...) Na minha opinião, não há grandes problemas em adiar as eleições por alguns meses. Se as eleições receberem o apoio generalizado da Arábia Saudita, Jordânia, Turquia, Irão, os americanos não interessam. Preservar a boa vontade e o empenhamento dos países vizinhos é absolutamente fundamental.
No que diz respeito aos grupos armados, a maioria dos iraquianos não os apoia (...) acho que ainda é possível isolar ou incorporar os grupos armados no processo político. Fez-se isso com Muqtada al-Sadr [líder radical xiita], por que não incorporar os grupos sunitas? Aí voltamos aos vizinhos, à Jordânia e à Arábia Saudita, porque, se eles estiverem dispostos a encorajar os sunitas, pode reunir-se apoio suficiente. Mas a questão é saber se eles querem uma boa relação com o Iraque ou se pretendem adoptar uma postura de confrontação. O factor regional é muito importante.
(...) A visão informada europeia do Iraque não pode ser apenas dizer «vamos sair do Iraque». É preciso pensar no que se pode oferecer ao Iraque, no que é que é mais importante para os iraquianos e para a estabilidade da região. A Europa, que também apoiou Saddam Hussein, deve perceber que é preciso encontrar uma forma de construir um centro político poderoso no Iraque, integrando os nacionalistas, sunitas e outros grupos. Os americanos não vão fazer isso. Nós temos uma oportunidade para fazer isso.
(...) Quando se avalia a Al-Qaeda, é preciso distinguir entre as suas actividades e o fundamentalismo sunita em geral, activo no Médio Oriente nos últimos 20 anos. É certo que não estamos a lidar com uma organização, mas com aquilo a que podemos chamar uma insurreição internacional. Não é uma guerra, mas é uma insurreição muito alargada capaz de recrutar pessoas do Médio Oriente ao Ocidente e que pode desenvolver diferentes tipos de acções militares.
Existe uma coisa chamada Al-Qaeda, existe essa organização, mas tornou-se o centro de uma estrutura mais descentralizada que, em última análise, se apoia na inspiração como força de exemplo. Talvez isto continue por muito tempo, mas não penso que vão destruir as economias ou o sistema político do Ocidente. Têm os seus sucessos, claro, Bin Laden conseguiu reeleger George Bush, isso foi um sucesso, que lhe permite continuar a confrontar um Ocidente muito militarizado (...), mas isso é diferente de dizer que vai destruir o nosso modo de vida.
 

sexta-feira, dezembro 03, 2004


Mais quatro anos.

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